Sem uma gestão cuidadosa do capital de giro, uma empresa não consegue se manter muito tempo no mercado. Aqueles que desejam começar um negócio, primeiramente precisam ter muito claro no planejamento qual o montante de capital de giro necessário para começar a empreender.

Com minha experiência de 35 anos no mundo empresarial e desde 2015 como fundador e diretor-executivo da MORCONE Consultoria Empresarial, hoje trago um artigo sobre os principais cuidados na gestão do capital do giro que se deve ter.

As micro e pequenas empresas, principalmente, precisam redobrar os cuidados na gestão do capital de giro, afinal, temos uma complexa economia, além disso, o mercado financeiro tem expandido e evoluído cada vez mais e não podemos esquecer do fator custo de crédito elevado.

O beabá do capital de giro – fundamental

Nelson Rodrigues já utilizava a expressão “o óbvio ululante”, ou seja, aquilo que está visível a todos, mas é considerado corriqueiro e banal. Quando o tema é esse, muitos empresários podem pensar “disso eu já sei”, mas pode acreditar, esse é um problema em comum entre milhares de negócios e o básico parece que não foi compreendido.

Para falar de cuidados na gestão do capital de giro, gosto de me utilizar da metáfora da caixa d’água. Abaixo você verá uma ilustração à mão livre que fiz para o apoio da explicação:

Ilustração à mão livre da metáfora da caixa d’água

 

O que a caixa d’água tem a ver com a funcionalidade do capital de giro? Por que não se conecta a rede de água da rua, fornecida pela empresa que distribui água, diretamente nos canos que distribuem a água dentro da residência? Porque pode haver variação de fornecimento de água pela empresa que distribui, e assim, sentiríamos de imediato a falta de água na residência. Como regra, o fornecimento de água da empresa que distribui, é conectada a uma caixa de armazenamento que serve como um “pulmão” mantendo o constante fornecimento de água dentro da residência, mesmo que haja variação no fornecimento da empresa.

Traduzindo para o universo empresarial, a empresa que “fornece a água” seria o contas a receber, o que é diferente de vendas, pois está relacionado ao pagamento do cliente que se torna dinheiro no caixa ou banco.

Já o cano localizado no fundo da caixa d´água suprirá os custos, despesas, os encargos sociais, impostos, despesas financeiras e o lucro. A água armazenada nessa caixa representa o capital de giro e é aquilo que vai garantir que na flutuação do contas a receber e das despesas/custos, se consiga manter a empresa abastecida de dinheiro, ou seja, com liquidez.

O cano que escoa a água quando a caixa d’água tende a transbordar, conhecido como “ladrão”, no caso do capital de giro, quando houver excesso, este será encaminhado para um outro reservatório (caixa d’água menor) que chamaremos de “reserva de contingência”.

A reserva de contingência, conforme explicado nesse artigo sobre capital de giro na pandemia, é resumidamente 6x a despesa/custo fixos da empresa (soma do passivo circulante) . A fim de exercitar este conceito, imagine que a soma mensal das despesas/custos fixos (passivo circulante) seja de R$ 4 mil. O seu saldo “zero” seria de R$24 mil, ou seja, se você ficar com um saldo de R$23 mil, seria como você estivesse R$1 mil negativo no cheque especial.

Se eu tenho um fluxo de entrada de água menor do que o consumo, o nível da caixa d´água tende a diminuir, traduzindo para o universo da empresa, o negócio estará consumindo capital de giro. Quando o fluxo de entrada é maior do que o consumo, o nível da água na caixa tende a subir até transbordar para o que é a reserva de contingência.

Basicamente, o capital de giro é o montante de dinheiro necessário para manter a empresa funcionando com liquidez.

Confira: Gestão do Fluxo de Caixa em tempos de Covid-19 – para empresas e lares brasileiros nos próximos meses

Como calcular o capital de giro?

Um dos principais cuidados na gestão do capital de giro é o cálculo frequente, já que o valor varia conforme o crescimento do negócio. Esse não é um cálculo simples, portanto, para realizá-lo, é preciso seguir com exatidão todas as regras do mundo financeiro empresarial e contábil também.

Mas de forma didática exemplifico da seguinte maneira: para calcular o capital de giro é preciso efetuar quatro tarefas financeiras diariamente.

primeira tarefa é conferir o contas a receber e saber, com certeza, se os clientes que deveriam ter pago ontem, realmente o fizeram e se esse pagamento foi transformado em dinheiro no caixa.

segunda tarefa é conferir o contas a pagar, e verificar no movimento de ontem, se tudo o que deveria ser pago foi pago.

terceira tarefa financeira é conciliar os saldos do banco, os saldos de ontem com os saldos dos controles que o negócio tem.

Realizadas as três tarefas financeiras, rigorosamente e diariamente, aí finalmente se obtém o desenho do fluxo de caixa e uma visão de longo prazo, de 15, 30 ou 60 dias. Ou seja, se você tem certeza do saldo bancário no final do dia anterior, olhando hoje para a frente, exercitando a gestão do fluxo de caixa, pelos saldos diários que ele apresentará, você verá se está crescendo ou diminuindo seu capital de giro.

O cálculo técnico disso é difícil de realizar, mas tenho sempre a preocupação em repassar o conteúdo de maneira prática e compreensível, o fundamental é prestar atenção nas despesas/custos fixos (passivo circulante), naquelas que vendendo ou não vendendo, o negócio precisa arcar.

Todo mês, ao somar as despesas/custos fixos (passivo circulante), multiplique por 6 ou por 8 meses e você terá um cálculo rápido do montante de dinheiro que você vai precisar para manter o seu capital de giro.

O que acontece com as empresas que negligenciam os cuidados na gestão do capital de giro?

O negócio que não se atenta ao capital de giro, acaba perdendo a liquidez, não consegue arcar com os fornecedores, perde o crédito junto a estes e na sequência acaba perdendo o crédito junto aos bancos, porque esses serão os primeiros a saber que o negócio está inadimplente, o que levará ao corte das linhas de crédito.

Além de fechar as portas, o empresário fica endividado por anos, porque negligenciou os cuidados com o capital de giro e não se preocupou como deveria.

Negligenciar a necessidade e a utilização desse recurso é potencializar consideravelmente os riscos já existentes no dia a dia de uma administração de um negócio.

Todo crescimento, toda expansão, exige injeção de capital de giro. Não projete o aumento da empresa, não introduza uma nova linha de produtos, uma nova filial, etc., sem ter recursos o bastante para isso, sem ter capital de giro suficiente.

Esses recursos injetados podem ser próprios, ou seja, o próprio empresário investindo mais dinheiro na empresa, ou podem ser de investidores, de fundos de investimento ou até de bancos públicos.

A empresa que deseja crescer precisa aumentar o tamanho da caixa d’água, ou seja, o capital de giro. Oriento no caso do empresário que não saiba fazer a gestão do capital de giro, que recorra a uma consultoria especializada, que ajudará a minimizar muito os riscos de uma estrondosa dor de cabeça no futuro, ou seja, de ter o sonho do negócio transformado em pesadelo.

Cuidados na gestão do capital de giro em tempos de Covid-19

Em um cenário de pandemia, se o empresário é precavido, cuidou do capital de giro e se preocupou em fazer uma reserva de contingência, basta realizar uma redução ao máximo possível dos seus custos e despesas, renegociar prazos e pagamentos juntos aos fornecedores, até que as coisas possam voltar à normalidade.

Nesse momento, o empresário não pode ficar parado, é preciso se reinventar, pensar em estratégias, usar a capacidade criativa. No setor da alimentação, por exemplo, as ferramentas como iFoof, Uber Eats, Rappi, entre outras, são fundamentais. Ainda que não se consiga lucrar como antes da pandemia, o negócio com ação estratégica, consegue prosseguir no mercado.

O capital de giro é algo que te preocupa? Entre em contato com a MORCONE Consultoria Empresarial. Podemos te auxiliar!